Variações
"E quem te disse que eu me quero adaptar a Lisboa? É Lisboa que se vai adaptar a mim."
António Variações
Desde que, no final de 2018, começou a ser promovido o filme realizado por João Maia que a curiosidade em torno deste foi crescendo. Há muito tempo que não se via no cinema português algo deste género. Toda a promoção do filme foi muito bem pensada e levada a cabo com mestria. Em Julho deste ano, no palco EDP do NOS Alive, tive oportunidade de assistir a um concerto com o Sérgio Praia, ator que dá vida no ecrã a Variações e fiquei ansiosa pela estreia do filme. Os dados estavam lançados e foi com muita expectativa que esta semana fui finalmente ao cinema ver ‘Variações’.
António Ribeiro, mais conhecido entre nós como António Variações, foi um homem muito à frente do seu tempo que desafiou um país ainda conservador e desconfortável com as suas próprias mudanças. A música, da qual nada sabia em termos técnicos, foi a forma escolhida por António para se expressar unindo a tradição (muito por influência de uma das suas cantoras preferidas, Amália Rodrigues) a uma nova forma de fazer e pensar a música. Apesar do seu desaparecimento precoce, aos 40 anos de idade, António viveu uma vida cheia de coisas para contar. O filme centra-se sobretudo no período entre 1977 e 1981, altura em que António regressa a Lisboa para perseguir o seu sonho de se tornar cantor. António viveu uma vida entre um certo conservadorismo, próprio de locais mais pequenos (viveu a sua infância em Fiscal, concelho de Amares) e o vanguardismo de locais como Londres ou Amesterdão (onde trabalhou como cabeleireiro/barbeiro). ‘Variações’, conta a história de um homem de convicções, tanto na música como no amor. Viveu um amor ‘proibido’ com Fernando Ataíde e na música enamorou-se das coisas simples. Sim, porque as suas canções falam sobre as coisas mais simples que são, normalmente, as mais bonitas.
No ecrã podemos ver Sérgio Praia representar António de forma brilhante. Na verdade, posso mesmo dizer que por vários momentos me esqueci do ator e fiquei simplesmente a ver o Variações. As semelhanças entre os dois são imensas e é mesmo o próprio que dá voz aos temas presentes no filme. A sua linguagem corporal, os gestos, os movimentos, as expressões aliados a um guarda roupa e caracterização que achei muito bem conseguidos, ajudam a que esqueçamos Sérgio e apenas vejamos António. Ele acaba por ser o motor desta longa metragem apesar de bem acompanhado por Filipe Duarte (Fernando Ataíde), Victória Guerra (Rosa Maria) e Augusto Madeira (Luís Vitta) a interpretarem personagens de grande relevância na história deste artista. Ficaram a faltar alguns momentos chave da vida de António como a sua presença no programa de televisão o Passeio dos Alegres ou o momento em que, ao cortar o cabelo a Júlio Isidro no cabeleireiro de Isabel Queiroz do Vale, este partilha a sua música com o apresentador. Ainda assim, ‘Variações’ é um filme que prende do princípio ao fim. Está bem conseguido em quase tudo desde o guarda roupa, à caracterização, aos cenários, à banda sonora (com os temas clássicos de Variações que todos tão bem conhecemos) ao desempenho dos atores. ‘Variações’, o filme, recupera a memória de um dos maiores nomes da história musical do nosso país e celebra-o nas salas de cinema. Altamente recomendado!